Treinar para descansar
Hoje tenho sentido imenso (eu e quase todo o país), o desequilíbrio da nossa produção/lucro. É devastador.
E a desafiar-me: |
E eu não voltei (até hoje não sei se venci o desafio, face a tanta cicatriz... como se diz, numa guerra só se restam vencidos...)
Mas, com tudo isto, não me sentia roubado, a não ser por mim próprio.
Eu, na rua, sem abrigo, longe de tudo, a roubar-me o sabor de um doce, na varanda da minha casa. Ou uma água de Côco, de madrugada, no mirante do Leblon, com o barulho do mar lá em baixo ("Rio 40º").
Ou mesmo a roubar-me uma música clássica grátis, na "sala Cecília Meirelles", depois das aulas...
Houve um período em que trabalhei (16 H/Dia) num restaurante em Lisboa. Quando um dia desço do sotão, a meio da tarde, e vejo os garçons a dormirem (com o restaurante fechado), soube que aí havia um pequeno intervalo e o único camêlo do zoológico que ficava de serviço era eu.
Saí porta fora e me perguntaram:
- Vais aonde?
E eu respondi:
- Vou ao ACM. Vou treinar
E disseram
- Vais ficar morto de cansaço!
E eu arrematei:
- Não! Eu vou lá treinar p'ra descansar...
Hoje, sinto-me realmente cansado.
É da luta, da labuta, de tanto ter me roubado a mim, e de ver, literalmente, as pessoas a explodirem, mundo afora...
Mas aí, de repente, aparece a reportagem sobre o culturismo no Afeganistão (no canal Odisseia - TVCabo), e eu sinto-me renovado e honrado de praticar o meu desporto.
E continuo a treinar p'ra descansar.
- Mais uma Rep! Vai! E vou rebobinando estar aqui.
- Mais uma Rep! Vai! E vou continuando a renovar
- Mais uma Rep! Vai! E, até ao fim, não desisto:
Estou vivo!